Renda em Vitória é o dobro da média do Espírito Santo
- Guilherme Luiz Vitoria-Es
- 16 de dez. de 2017
- 4 min de leitura
Trabalhadores da Capital ganham, em média, R$ 2.137 a mais

Quem trabalha em Vitória ganha mais. Dados da Síntese dos Indicadores Sociais de 2017 (SIS), publicada nesta sexta-feira (15) pelo IBGE, dão conta que o rendimento médio do morador da Capital é mais que o dobro do que ganha o trabalhador do restante do Espírito Santo. Enquanto em Vitória a população maior de 16 anos que trabalha ganha em torno de R$ 4.019, a média capixaba é de R$ 1.882, uma diferença de R$ 2.137.
Vitória é, inclusive, a capital brasileira com maior média salarial, superando até mesmo Brasília, onde a renda mensal é de R$ 3.529, e cidades como Porto Alegre (que tem renda média de R$ 3.476) e a metrópole São Paulo (R$ 3.335). O valor também é praticamente o dobro do rendimento médio dos trabalhadores brasileiros, que é de R$ 2.021 .
Nos últimos cinco anos, o crescimento da renda média do morador da Capital capixaba foi de 39%, enquanto a dos trabalhadores de todo Estado foi de apenas 5,8%.
Na avaliação dos especialistas, a grande disparidade de renda entre a Capital e o restante do Espírito Santo se dá por conta do maior número de grandes empresas, que pagam melhor o trabalhador.
“Historicamente, Vitória concentra a maior parte dos serviços do Estado, e serviços mais qualificados, além da presença da indústria, que ambos remuneram melhor por precisar de mão de obra mais qualificada. Já no interior, a tendência é se ganhar menos, pelo custo de vida menor”, explicou o economista e presidente do Conselho Regional de Economia do Estado (Corecon-ES), Victor Nunes Toscano.
A alta presença de repartições públicas também é um dos motivos para a renda maior em Vitória, destaca Eduardo Araújo, economista e vice-presidente do Corecon. “O setor público paga melhor que o privado, e em Vitória a gente tem uma grande concentração de órgãos e entidades não somente municipais mas também estaduais e federais, que pagam ainda mais, fora trabalhadores do Judiciário e Legislativo”, afirma.
CONTRASTE
Apesar da renda elevada, a desigualdade em Vitória é alta, alertam os especialistas. Segundo Toscano, poucos ganham muito, e como a cidade é relativamente pequena, se dá o fenômeno.
“Essa renda de mais de R$ 4 mil é uma média, mas não é o que a gente vê na maioria dos casos. Esse rendimento maior é extremamente concentrado”, ressalta.
A própria pesquisa do IBGE aponta isso. De 2015 para 2016, o percentual de pessoas que moram em domicílios inadequados cresceu 14%. São contabilizados lares em que não há banheiro, que são feitos de material de construção não durável (como palafitas), que tem o aluguel excessivamente alto, e que o adensamento social é grande. Ao todo, são 23.247 moradores da Capital que se enquadram nesse cenário.
Já a nível estadual, são 5,9% dos domicílios que se encontram em condições inadequadas. Outro dado preocupante é o de que 12% dos capixabas não têm acesso a esgotamento sanitário.
884 MIL CAPIXABAS ESTÃO NA LINHA DA POBREZA
O Espírito Santo possui 884.864 pessoas vivendo na pobreza, o que equivale a mais do que toda a população do Acre, que é de 829.619. Como reflexo da crise, esse índice no Estado cresceu 4% no ano passado em comparação com 2015, quando 849.469 capixabas se encontravam nessa situação.
O número aponta que 22,3% de toda a população capixaba, que em 2016 era de 3,96 milhões, mora em domicílios em que a renda média familiar por pessoa é de até R$ 377. Pela linha do Banco Mundial, que leva em conta o nível de desenvolvimento brasileiro, vive na linha da pobreza quem ganha até US$ 5,50 dólares por dia, ou seja, R$ 377 por mês.
Em Vitória, o avanço foi ainda maior que no restante do Estado. Atualmente, 40.112 moradores vivem em situação de pobreza, um crescimento de 25% em comparação com 2015. No Brasil, são 52 milhões de pessoas na pobreza.
231 MIL JOVENS NÃO ESTUDAM NEM TRABALHAM
Um em cada quatro jovens capixabas não trabalha nem estuda. É o que aponta a Síntese de Indicadores Sociais, do IBGE. Hoje, 27% da juventude entre 16 e 29 anos do Espírito Santo estão nessa situação.
Ao todo, são 231 mil jovens ‘nem-nem’ no Estado, ou seja, que nem estão cursando o ensino médio ou superior, nem estão inseridos no mercado de trabalho, número que cresceu 19% nos últimos cinco anos: em 2012, eram 186 mil.
O crescimento dos nem-nem se deu justamente no pior período da crise econômica nacional, alertam os especialistas.
Com isso, postos de trabalho são fechados, o acesso a uma faculdade particular fica mais difícil, e muitos jovens são estimulados pelas famílias a deixarem seus estudos ainda no ensino médio para ingressar mais cedo no mercado de trabalho para ajudar a renda domiciliar.
“No ano passado, foi quando sentimos os efeitos mais fortes da crise. Então, era de se esperar que ficasse mais difícil para esses jovens conseguir emprego nesse cenário. Outra coisa que conta aí é o desalento: com o desemprego, a pessoa desiste de procurar um emprego e de estudar, e como não estuda, não tem qualificação para conseguir um emprego com facilidade”, analisa o economista Victor Nunes Toscano, presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-ES).
O economista Eduardo Araújo lembrou que, com o desemprego na família, o adolescente e jovem, às vezes, é forçado a largar o estudo para ajudar na renda da casa. No entanto, acaba comprometendo seu futuro, pela falta de capacitação.
“É um dado muito alarmante porque mostra não apenas o total de jovens desempregados, mas também os que, por não estarem estudando, terão mais dificuldades nos próximos anos em conseguir um emprego. Um boa solução, acredito, seria dar algum auxílio aos estudantes carentes que buscam capacitação pública, para que ele não venha a desistir do estudo pelo trabalho”.
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